O sono regula os fatores que definem a nossa saúde física e mental
· O comportamento;
· A aprendizagem;
· A memória;
· A regulação emocional;
· A qualidade de vida.
A Pandemia trouxe-nos alterações estruturais às nossas rotinas diárias e à forma como encaramos as mudanças. Estas passaram a ser previsíveis e ao mesmo tempo repentinas, o que se repercute, entre outras coisas, na nossa forma de dormir.
Em março comemora-se o Dia Mundial do Sono, com o objetivo de sensibilizar as várias gerações para a importância de uma boa rotina/higiene do sono e as suas possíveis implicações na nossa saúde, quando descuramos este aspeto essencial.
Assistimos também em março, ao regresso às escolas, numa tentativa de normalizar o dia-a-dia dos mais pequenos e o das suas famílias.
Mas…
Depois de 2 meses de uma rotina, a do confinamento, tivemos em 4 dias que nos readaptar novamente e voltar à escola / trabalho. Esta alteração de atividades, pode trazer algumas dificuldades, no entanto sabemos que também trará muitas vantagens na interação, hábitos e aprendizagem das nossas crianças.
Por isso, vamos ajudar de alguma forma a normalizar estas questões e a compreender possíveis reações que as crianças apresentam.
Aos pais e cuidadores
“Porque todas as pessoas crescidas já foram crianças… e poucas se lembram!”
Antoine Saint-Exupery
Antes de mais os nossos parabéns pela dedicação e também pela vossa capacidade de adaptação a todas estas realidades que nos eram desconhecidas. Sabemos que nem sempre foi fácil, conciliar trabalho com os filhos, alguns com ensino à distância, as suas necessidades, os horários, a saturação, etc. Mas conseguiram, superaram e inclusive melhoraram algumas estratégias, estão aqui e cada vez mais resilientes.
Então PAIS, sabiam que o sono tem implicação direta com a forma como nos sentimos? Parece simples, mas muitas vezes não o aplicamos, quer para nós quer para as crianças.
Temos diversas coisas que condicionam o nosso bem-estar e muitas delas são controladas e descuradas por nós, o sono neste caso específico é uma delas!
Imaginem uma fábrica! As máquinas trabalham 10 horas, são desligadas ou colocadas em pausa 12 horas e ainda fazem manutenção regular para que possam produzir de forma eficaz.
O nosso corpo tem órgãos internos que embora nunca parem, precisam que nós não tenhamos atividade para se reestabelecerem e de manhã estarem a trabalhar a 100%. Se o conseguirem fazer, equilibram todas as nossas funções e ao outro dia estaremos garantidamente mais predispostos a qualquer atividade, temos mais tolerância com os nossos filhos, mais disposição para o trabalho, etc.
O processo das nossas crianças é igual, com uma agravante para além do que referimos anteriormente, eles estão em período de amadurecimento e desenvolvimento, existem estruturas cerebrais que sem um sono de qualidade não se desenvolvem ou consolidam.
O problema reside quando não conseguimos ter tempo, para as tarefas diárias e conciliar os horários com a hora certa de ir dormir. Mas não existe hora certa…
Cada um de nós tem necessidades diferentes, existem estatísticas, que nos indicam que por exemplo crianças dos 3 aos 5 anos devem dormir entre 10 a 13 horas por noite, mas garantidamente que muitas das nossas crianças dormem apenas 8 a 10h dia. Será correto esse horário? – Depende de cada criança.
Para além das horas de sono, é muito importante a qualidade do sono.
Existem estratégias, que poderemos utilizar para facilitar e melhorar a qualidade do sono, todas elas lhe serão familiares e nem sempre as tentamos aplicar. Por exemplo, o nosso corpo tem um sensor próprio que quando a luz diminui, o organismo sabe que se está a aproximar a hora do sono, mas hoje em dia, com a luz artificial e principalmente com a luz azul dos telemóveis e tablets enganamos e confundimos o nosso sensor, não sabendo o corpo quando deve dar o alerta de sono e quando deve iniciar essa etapa, porque ainda há luz.
Esta é a origem da dica, de diminuírem as luzes e tentarem que as crianças não vejam telemóvel antes de dormir.
Se diminuirmos a luz estamos a ativar o sensor que nos diz, tens que ir dormir.
As dificuldades vs as estratégias
“As pessoas mais velhas, não conseguem entender nada por si só e é muito chato para as crianças que têm de dar explicações repetidas vezes”
Antoine Saint-Exupery
Teríamos páginas e páginas para escrever sobre o sono e a sua importância. Mas temos apenas uma revista e queremos deixá-lo descansado.
Então, vamos agora às reações que as nossas crianças podem apresentar neste regresso à escola com os períodos de sono desregulados. A mais frequente será a irritabilidade. Porquê?
Estão num ambiente mais estruturado (com mais regras) e retomaram algumas atividades que exigem concentração, o que os cansa. Voltaram à interação com os colegas e deixaram de ser o centro das atenções, voltaram e bem a lidar com a frustração. As partilhas de brinquedos, as corridas no recreio, a comida da cantina etc.
Todas estas competências essenciais para a vida são treinadas na pré-escola dia sobre dia, e no período de confinamento foram deixadas para trás, pois não tinham amigos com quem brincar, não tinham atividades e horários a cumprir e queríamos sobretudo que se sentissem bem em casa, e descuramos obviamente algumas regras.
Agora que retomaram a escola, tudo isto é sinónimo de exaustão física e mental para eles.
E ainda…. não estão a dormir nos períodos regulares e equilibrados. Ou seja, vamos ter algumas birras, vamos deparar-nos com algumas situações menos boas, porque também nós nos estamos a adaptar a outra rotina.
Mas Pais, nós compreendemos o que se está a passar neste mundo e criticamos, aceitamos, revoltamo-nos…. as crianças, não!!
Não entendem, têm simplesmente que cumprir e superam-se todos os dias, já deram conta disso?!
Outro problema frequente pode resultar em algum medo / stress de retomar a rotina, pois o ambiente familiar é sentido como o mais seguro.
Uma vez mais…. Pais, nós adultos sentimos o mesmo e nem sempre conseguimos contornar.
Os pequenos, como é que conseguem?!?
Vamos conversar com eles, sem pressa 5 minutos chegam, porque eles também não querem mais, com escuta ativa, sem os criticarmos, vamos deixar falar! Eles vão querer esconder as emoções negativas, vamos dizer-lhes que também tivemos medo, que também não queríamos ir, que tivemos uma situação má…. assim encorajamos e dizemos que também sentimos “essas coisas”.
Uma ótima forma de os ajudar é, não falando diretamente neles, utilizarmos por exemplo uma história antes de dormir. A personagem pode ter características físicas idênticas e a idade aproximada (nunca o mesmo nome), o enredo da história deve abordar uma situação idêntica à que a criança relatou, e assim ajudamos a criança a ver uma possível solução. Podemos também, perguntar qual acha que vai ser o final daquela história e como ajudaria este menino.
por Sofia Borges, Psicóloga da A2000