A Autorrepresentação só é consistente se houver uma capacitação prévia, tal como a Inclusão só se torna uma realidade se cada um perceber qual o seu papel na concretização das leis e normativos, mas para tal é necessário falar sobre o assunto, debater, esclarecer, questionar.
Os direitos e deveres dos cidadãos com uma deficiência estão consagrados na Constituição da República Portuguesa, e em 2009, Portugal ratificou a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência cujo objetivo é promover, proteger e garantir os seus direitos humanos e liberdades fundamentais. Mas será que na prática as pessoas com deficiência sentem isso? Há igualdade e inclusão na nossa sociedade?
Entendendo a inclusão como o ato de incluir e acrescentar, ou seja, adicionar coisas ou pessoas a grupos, a inclusão representa um ato de igualdade entre os diferentes indivíduos na sociedade ou comunidade da qual fazem parte. Foi precisamente aqui que, neste mês centramos as nossas reflexões, para entendermos melhor o processo de incluir alguém.
Começámos por perceber que é um direito de todo o qualquer ser humano, descrito no artº 19 da Convenção dos Direitos da Pessoa com Deficiência: Direito a viver de forma independente e a ser incluído na comunidade (…). Sendo um direito, procurámos na sociedade formas de ativar este direito através da informação transmitida. Nesse sentido, destacamos o Balcão da Inclusão como um serviço que cumpre esse objetivo. Trata-se de um local de atendimento que disponibiliza informação sobre deficiência/incapacidade e promove a mediação especializada e acessível de acordo com a legislação em vigor. Pesquisamos na internet alguns exemplos para percebermos como funcionam e, no final, reunimos toda a informação e sintetizamo-la num cartaz, para ser mais percetível.
Falámos, ainda em Tabuaço e Armamar, sobre Educação Inclusiva. Organizamos um pequeno debate e cada um falou da sua experiência quando frequentou a escola. Uns gostaram e sentiram-se incluídos na turma, outros nem por isso, pois, percebiam que estavam um pouco à parte, por serem “especiais”. Sendo a Educação um direito Universal, o que é afinal a Educação Inclusiva? É uma forma de educação que respeita as diferenças e os ritmos de cada um e para isso, a escola terá de ser:
EQUITATIVA: todos têm acesso aos apoios necessários de modo a concretizarem o seu potencial;
INCLUSIVA: todos têm o direito à participação nos mesmos contextos educativos;
PERSOANLIZADA: o planeamento é centrado no aluno;
FLEXÍVEL: é efetuada uma gestão flexível do currículo, em resposta às especificidades de cada aluno.
Para que estes princípios sejam alcançados, precisamos de uma comunidade mais tolerante, empática, paciente, criativa e com mais conhecimento técnico. No final, concebemos um cartaz com imagens e frases, criadas em conjunto, que traduzem a forma como percecionamos a Educação Inclusiva.
Aproveitando o tema, abordamos ainda formas de comunicação mais inclusivas, isto é, a forma correta de comunicarmos com pessoas que tenham alguma incapacidade ou deficiência. Entendemos que este tipo de comunicação é baseado nos mesmos princípios de relacionamento com as pessoas em geral: respeito, honestidade e compreensão, portanto, ao interagir com uma pessoa com deficiência apenas temos que fazer o que fazemos para todos: cumprimentá-la e abordar os assuntos de forma direta e clara. Deixamos algumas dicas*, porque nunca é demais aprender:
Em vez de dizer… | Devemos dizer… |
Inválido, incapacitado | Pessoa com deficiência |
deficientes | Pessoa com deficiência |
Limitado/ confinado a cadeira de rodas | Pessoa que utiliza cadeira de rodas |
Defeituoso de nascença | Deficiência congénita |
Mongolóide | Pessoa com síndrome de Down |
(*in Manual de etiqueta, IEFP)
Em Armamar, aceitamos, ainda, o convite da biblioteca municipal e fomos ouvir uma história sobre transformação. Ouvimos a história da lagarta que se transforma numa bela borboleta e, refletindo um pouco sobre isso, chegamos à conclusão que, tal como a lagarta, todos passamos por momentos de transformação ao longo da vida.
Em Poiares, mantivemos a temática da inclusão, onde se discutiu o que era a inclusão para cada um e de que forma aplicamos no nosso dia-a-dia. A partir deste tema foi realizada uma atividade para nomear e descrever em que situações se sentem incluídos e/ou como podemos incluir os outros. Sendo que os temas foram Inclusão em casa, na comunidade, na escola e no trabalho. Concluiu-se que a expressão “estarmos incluídos” significa sentirmos que pertencemos a algum sítio, e isto depende não só dos outros, mas também de nós e do nosso comportamento.
Também criamos um esquema de como “Fazer a Diferença para a Inclusão”, inspirado no esquema de John O’Brien sobre “Five Valued Experiences: Dimensions of Inclusion” (Cinco Experiências Valiosas: Dimensões da Inclusão), este mostra como as nossas experiências de vida e os nossos valores sociais nos permitem incluir e sermos incluídos numa comunidade, e que o nosso comportamento pode afetar o funcionamento desta. Através deste esquema foi possível concluir que ao fazer a diferença e seguirmos os valores da inclusão vamos combater:
- a estereotipia: a limitação da vida em comunidade que diminui as oportunidades de criar uma comunidade variada;
- a segregação de grupos: dificulta a diversidade na comunidade;
- a congregação: o que provoca o isolamento de um grupo de pessoas por uma determinada característica;
- a fraca rede de suporte: o que causa baixas expectativas e falta de apoio;
- o controlo externo: priva as pessoas de escolher, devido a um baixo nível de individualização ou resposta à vulnerabilidade.
Uma comunidade que semeia a Inclusão no seu dia-a-dia combate o isolamento dos diversos indivíduos, permite uma melhor dinâmica e aumenta o positivismo na vida de cada participante.
Alexandra Santos, Técnica da A2000