A criança a partir do nascimento sofre profundas modificações: passa de uma condição de total dependência controlada apenas por movimentos reflexos, até se tornar um ser independente com desejos próprios. Estas modificações dão-se principalmente nas áreas motora, sensorial e psíquica. Sendo assim, os reflexos primitivos de recém-nascido sofrem inibição, à medida que ocorre a maturação do sistema nervoso central.
Sabemos que a criança é um produto de vários fatores: da evolução adaptativa da sua espécie, dos genes que herdou dos seus pais, do ambiente físico, social e cultural em que vive e das experiências de interação que vivencia nesse ambiente. Contudo está estudado o padrão de “normalidade” para cada etapa de desenvolvimento, obviamente que cada criança tem o seu ritmo, mas conhecer esse padrão permite-nos estar atentos e perceber se há razões para alarme ou se tudo está a correr adequadamente.
Neste artigo vai expor-se o padrão ao nível do desenvolvimento motor e os sinais de alarme dos Zero aos 12 meses e no próximo artigo completa-se até aos 6 anos.
RECÉM-NASCIDO: deve ter-se em atenção a sua postura e tónus muscular, se reage ao som e se fixa o olho ou a face humana e a presença de reflexos primitivos (como de sucção, preensão palmar e reação automática de sobrevivência, p. ex.)
Devemos ter em conta como o recém-nascido se encontra – se está a dormir, sonolento, acordado, irritado, a chorar ou é prematuro – pois esses fatores podem alterar a avaliação.
Alarme: o recém-nascido está demasiado rígido, irritável, com espasticidade, olhar caído, demasiado hipotónico, se não recupera a sua posição em semi-flexão dos membros.
4 a 6 SEMANAS: em decúbito ventral, levanta a cabeça de forma intermitente, no entanto se tracionado pelas mãos ainda não tem controlo cefálico.
Mantém reflexos primitivos (marcha automática, preensão palmar, etc.). Sentado, mantém o dorso em arco.
As mãos ainda estão muito fechadas, a visão é imperfeita e pode haver estrabismo, porque o controlo dos músculos oculares é ainda pouco eficaz.
Fixa a face da mãe quando esta o alimenta. Reage ao som da voz a 15cm do ouvido, podendo parar ou olhar para a fonte de som.
Alarme: ausência de tentativa de controlo cefálico. Híper ou hipotonia. Não reage ao som da voz.
3 MESES: em decúbito ventral eleva a cabeça e o tronco, com apoio nos antebraços. Em decúbito dorsal estica as pernas e dá pontapés de forma ritmada e simétrica. Se tracionado pelas mãos, já mantém a cabeça ereta e retifica a metade superior do dorso.
Abre e fecha as mãos, brinca com elas, levando-as à linha média (à boca).
Olha com interesse as faces, reconhecendo faces e objetos familiares.
Reage ao som, localizando a fonte sonora e virando a cabeça. Sorri reconhecendo a voz da mãe.
Alarme: não fixa nem segue objetos, nem mesmo a face humana. Não vira os olhos para o som, não sorri, não tem controlo cefálico. Mãos sempre fechadas, membros rígidos em repouso. Sobressalto ao menor ruído.
6 MESES: em decúbito ventral, faz apoio nas mãos. Descobre os pés, podendo agarrá-los e levar à boca. Rola e vira-se. Quando tracionado pelas mãos, faz força para sentar. Pode ficar sentado sem apoio, mas ainda não tem reações de proteção lateral, pelo que pode cair.
Leva os objetos à boca. Faz preensão palmar, alcançando o objeto voluntariamente, transfere de uma mão para a outra e pode já segurar dois brinquedos. Dá os braços para o agarrarem ao colo.
A visão é agora nítida, sendo o estrabismo raro ou apenas em situações extremas do olhar. Reage com a fonte sonora a 45cm do ouvido.
Muito ativo, atento e curioso. Interesse pela imagem no espelho.
Alarme: Membros inferiores rígidos, com passagem direta à posição de pé quando se tenta sentar, revelando espasticidade. Não olha nem pega objetos. Assimetrias (só usa uma mão, p. ex.). Não reage aos sons, não estabelece contato. Irritabilidade, estremece sempre que é tocado.
9 MESES: fica sentado sem apoios, por 10 – 15 minutos, uma vez que tem reação de proteção lateral e melhor equilíbrio. Põe-se de pé com apoio, mas não se baixa. Desloca-se rastejando ou tentando gatinhar.
Aponta com o indicador, gosta de premir botões e explorar buracos. Faz pinça fina. Atira objetos deliberadamente ao chão e procura objetos que caíram.
Leva comida à boca, mastiga e, caso ainda não o faça por falta de estimulação, é importante reforçar a importância da mastigação e iniciar a manipulação da colher e do copo.
Distingue familiares dos estranhos.
Alarme: não senta, permanece imóvel e não tenta mudar de posição. Sem preensão palmar e, não explora objetos oralmente. Não reage aos sons, engasga-se com facilidade. Sem reação aos familiares.
12 MESES: passa de decúbito dorsal para sentado, tem bom equilíbrio sentado. Gatinha ou desloca-se rastejando ou mudando de posição. Põe-se de pé e baixa-se com ajuda das mãos, anda com apoio.
Procura objetos escondidos (debaixo de um pano, p. ex.), bate um cubo no outro em imitação. Usa objetos de forma funcional (copo, telefone, escova de cabelo, etc.)
Bebe pelo copo com ajuda. Segura a colher, mas não a usa sozinho. Come com a mão.
Ajuda a vestir levantando os braços. Diz adeus e bate palminhas.
Alarme: não aguenta o peso nas pernas, por hipotonia; não senta. Permanece imóvel e não tenta mudar de posição. Não pega nos brinquedos ou fá-lo só com uma mão. Não faz pinça.
Carlla Tancredi,
Fisioterapeuta