“MUDAT – A Mudança começa em ti!”

Dezembro traz consigo mais um fim de ano e, no nosso caso, mais um fim de projeto. De facto, foram meses intensos de grandes aprendizagens, pois com as nossas ações do projeto “MUDAT – A Mudança começa em ti!”, colocamos na ordem do dia os temas da violência às pessoas com deficiência e da Vida Independente. Trabalhamos afincadamente com diversos públicos-alvo, o que nos permitiu uma partilha enriquecedora para todos, pois ao longo do ano realizamos atividades com crianças, adolescentes, técnicos das estruturas oficiais, empresas e comunidade em geral.

Mas, especificamente em dezembro, cumpriram-se algumas ações de extrema importância para o projeto:

No dia 10 de dezembro realizou-se, com a colaboração do Município de Peso da Régua, no Auditório Municipal, um seminário: “Vida Independente: perspetivas …” . Abordaram-se várias áreas de vida, onde a independência é um fator importante para a qualidade e dignidade. 

A abertura do Seminário foi efetuada pela senhora Dra. Maria José Lacerda – Vice-Presidente do Município de Peso da Régua, contando também com a intervenção dos senhores Diretor do Centro Distrital da Segurança Social de Vila Real e do Presidente da A2000.

O 1° Painel do Seminário, moderado pelo sr. Vereador do Município de Peso da Régua, Eduardo Pinto, iniciou com a Dra. Susana Morais (Socióloga, Técnica Superior da Unidade de Desenvolvimento Social do Centro Distrital de Segurança Social de Vila Real) que apresentou a legislação em vigor sobre a resposta Serviço de Apoio à Vida Independente. O Psicólogo Mário Gonçalves (Vice-Presidente da Direção da Associação Centro de Vida Independente)  falou sobre a concretização da resposta na vida das pessoas com deficiência. A Dona Maria Saramago apresentou o seu depoimento, na perspetiva de cuidadora a tempo inteiro, salientando o “cansaço do cuidador” e a necessidade dos Assistentes Pessoais.

O 2° Painel, moderado pela Dra. Carla Oliveira (Atleta Paralímpica de Boccia), iniciou com a Professora Luísa Fernandes (Doutora em Sociologia, investigadora colaboradora do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho) que apresentou a perspetiva sociológica resultante de um estudo sobre a importância da inclusão e participação, na qualidade de vida das pessoas com deficiência. Seguiram-se as Dras. Dulce Saraiva e Tânia Neves (da APC Viseu) que apresentaram o projeto Sex in Life, salientando a importância dos afetos e da educação para uma sexualidade sem riscos. 

De tarde, com o moderador Gonçalo Novais (Lic. em Psicologia e Comentador Desportivo) abordou-se, na primeira mesa-redonda, a importância da prática de desporto e do acesso ao desporto, pelas pessoas com deficiência. O debate contou com a participação da Dra. Carla Oliveira (Atleta Paralímpica de Boccia) e da Dra. Margarida Duarte (Vice-Presidente da Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência – FPDD) que deixaram um alerta para as autarquias e associações desportivas serem mais inclusivas, na área do desporto. Na segunda mesa-redonda, o Gonçalo Novais debateu com o Eng° Márcio Martins (Eng.º de Reabilitação e Provedor do Cidadão com Deficiência ou Incapacidade do Município de Vila Real), a Eng.ª Raquel Reis (Eng.ª Civil – Unidade Técnica de Arquitetura e Engenharia, Centro Distrital da Segurança Social de Vila Real) e o Arquiteto Paulo Moura (Chefe de Divisão DPDEGE Município de Peso da Régua) a questão das acessibilidades físicas e digitais, salientando o longo caminho que temos pela frente, principalmente, porque a aplicação da legislação existente não está a ser  rigorosamente inspecionada. No final, o feedback dos participantes foi positivo pela reflexão conseguida e aprendizagens obtidas.

Nos dias 11 e 12 de dezembro, realizou, em Tabuaço e em Armamar respetivamente, um World Café sob o tema “A Vida independente na pessoa vulnerável: Uma realidade?”. Com a finalidade de promover a reflexão em torno da questão da Vida Independente nas pessoas com deficiência e vulnerabilidade, favorecendo a construção de uma cultura orientada para a inclusão e envolvendo as forças vivas locais. Nesse sentido, foram convidados representantes de várias entidades locais: técnicos do município; técnicos de IPSS’s e representantes de associações locais.

Nos World Café propuseram-se vários temas dispersos por mesas de trabalho com um moderador fixo, por onde todos os participantes passaram, dispondo de 10 minutos para debater e expressar propostas criativas promotoras de inclusão. Assim, nestes dias os temas colocados por mesa prenderam-se com 4 tópicos ligados à vida independente:

A Família/Relações Interpessoais; A Saúde/Bem-estar físico e mental; O Emprego/Ocupação e os Direitos/Cidadania/autodeterminação. Em Tabuaço, as moderadoras convidadas para cada área foram: a Sra. Vice-Presidente do Município, Dra. Anabela Oliveira; a representante da UCC Terras do Douro (Enfermeira Filipa Pereira); a Técnica do GIP (Dra. Sofia Veiga) e a Presidente da Associação de Pais (Nathalie Santos). Em Armamar as moderadoras convidadas para cada área foram: a Sra. vereadora do Município, Dra. Cláudia Damião; a Coordenadora da UCC Terras do Douro (Enfermeira Cristina Mesquita); a Técnica do GIP (Dra. Cristiana Monteiro) e a recém-eleita presidente da Associação de Pais (Dra. Catarina Monteiro).

De forma a incentivar o debate, cada mesa tinha uma noticia sobre o tema e uma questão, à qual os participantes deveriam responder. Na mesa da família a questão era “A aceitação do conceito de Vida Independente está a ser difícil, até mesmo dentro das famílias que têm um elemento com alguma incapacidade. Porquê? O que deve ser feito?”.

Os participantes, de uma maneira geral, afirmaram que a família, sendo o pilar fundamental da sociedade, deve preparar o indivíduo no geral, mas a pessoa com diversidade funcional no particular, para viver de forma independente, mediante as suas capacidades. Afirmaram ainda que por vezes, a família, ao querer proteger acaba por privar essa vivência de forma mais a independente. É importante educar para a Independência.  Por isso, os participantes indicaram que a informação e formação das famílias nesta área é primordial para que essa cultura comece em casa.

Na mesa do emprego, questionou-se “Trabalhar, prestar um serviço útil e ser remunerado por tal, é fundamental para a autonomização e realização de qualquer pessoa. Porque é que no mundo empresarial esta premissa é difícil de aplicar a uma pessoa que tenha alguma incapacidade? De que forma as empresas podem mudar?” Nesta mesa, os participantes indicaram a falta de informação como um dos motivos para a não contratação de pessoas com diversidade funcional, mas também o medo que alguns empresários possam ter na sua contratação, por acharem que estes não serão tão capazes e tão eficazes no desempenho das suas funções. Como forma de “combater” esta ideia, dever-se-ia apostar mais na informação, não só sobre os apoios existentes, mas também dar a conhecer casos de sucessos, para que os empresários e seus colaboradores saibam que é possível trabalhar com as pessoas com diversidade funcional. Os empresários devem olhar para a pessoa no seu todo e não estarem focados nas limitações dos indivíduos.

No que diz respeito à mesa dos Direitos, foram colocadas 2 questões: “1-As pessoas com deficiência existem desde o início da humanidade. Após tantos anos, porque é que se continuam a discriminar e a ignorar os seus direitos?”; 2-De que forma a sociedade poderá facilitar a inclusão das Pessoas com Deficiência e Incapacidade (PCDI’s)?” Os diversos participantes que passaram por esta mesa, apontaram a falta de informação, a falta de empatia, a falta de inadequação à realidade das políticas nacionais, como os principais motivos para o desrespeito dos Direitos das pessoas com deficiência. Para alterar isso, deve-se, mais uma vez, apostar na informação, nas ações de sensibilização junto de públicos mais jovens para que cresçam sem este preconceito e, essa informação deve chegar também às pessoas com deficiência para que elas se saibam proteger de atitudes mais discriminatórias.

Na mesa da saúde, questionou-se o seguinte: “Quando alguém procura um serviço de saúde, procura um serviço técnico especializado e, este age dessa forma, oferecendo-nos aquilo que considera o melhor para nós. Como é que este serviço pode tornar-se, em simultâneo, um serviço que promove a vida independente? O que é preciso alterar?” Aqui os participantes foram unânimes em indicar a falta de formação na área da deficiência, pelos profissionais de saúde como a principal barreira à promoção de uma vida independente. A comunicação não ajustada e adequada para os diversos públicos também se torna um obstáculo para um serviço de saúde de qualidade e excelência. Como se altera isso? Mais uma vez, com o acesso a informação, que por vezes não sai do papel.

Podemos afirmar que a palavra-chave destes World cafés foi a INFORMAÇÃO. De facto, todos os participantes asseguraram que a falta de informação sobre estes temas potencia o desinteresse e a indiferença perante o Direito à vida independente que consta na Convenção da ONU sobre os Direitos da pessoa com deficiência. Os presentes, enalteceram este tipo de iniciativas referindo a importância de realizar este tipo de eventos com mais frequência, de forma a abranger mais entidades locais. Estamos, por isso, muito gratos a todos os presentes por terem dado o seu contributo nesta matéria.

De forma a terminarmos o projeto, e porque damos importância à participação social e à Informação, estivemos presentes nas Assembleias Municipais de Armamar e Tabuaço, para que os munícipes tivessem conhecimento de todo o trabalho desenvolvido no âmbito deste projeto, “MUDAT- A Mudança começa em ti!” e, como o acrónimo MUDAT diz: é importante Mudar de paradigma, mas para tal tem de haver União entre as pessoas, Doação e partilha, Aceitação da diferença e Transformação da mentalidade das pessoas, que é o resultado que se pretendia alcançar com este projeto.

Marina Teixeira, Diretora Técnica

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