ALGUNS MITOS ASSOCIADOS À PERTURBAÇÃO DO ESPECTRO DO AUTISMO (PEA)  

Este artigo pretende abordar e desmistificar alguns mitos associados à Perturbação do Espectro do Autismo (PEA). Caso tenha lido as edições anteriores, terá percebido a importância de estarmos atentos aos sinais, de forma a reunir recursos para uma intervenção mais adequada e atempada. Neste sentido, para tomarmos consciência, precisamos de desconstruir alguns mitos e ideias que nos surgem associados a esta condição.

1º Mito – “As pessoas com autismo não estabelecem contacto ocular”

Embora algumas crianças tenham dificuldades em manter o contacto visual direto, esta não é condição obrigatória. O comportamento em relação ao contacto visual pode variar amplamente entre as crianças com autismo. Algumas podem ter dificuldades em manter um contacto visual prolongado, devido a desafios sensoriais, ansiedade social ou processamento visual atípico. No entanto, outras podem estabelecer contacto visual de maneira similar a crianças neurotípicas. 

2º Mito – “As crianças com autismo não falam”

Como o próprio nome indica, a PEA é um espectro que engloba uma ampla variedade de características e de níveis de funcionamento. As dificuldades ao nível da comunicação são evidentes nesta perturbação, mas nem sempre o mesmo se verifica ao nível da fala.

Algumas crianças podem ter atraso ao nível da aquisição da linguagem falada ou pode haver uma completa ausência desta competência. No entanto, outras crianças desenvolvem habilidades de linguagem e de fala adequadas à medida que recebem apoio terapêutico ajustado.

Para além disso, é importante reconhecer que a comunicação pode ocorrer de diferentes maneiras. Algumas crianças podem usar a comunicação verbal, enquanto outras podem optar por sistemas alternativos de comunicação, tais como, linguagem através de sinais ou comunicação através de dispositivos eletrónicos.

3º Mito – “As Perturbações do Espectro do Autismo são incapacitantes, limitando a funcionalidade e autonomia dos indivíduos”

Embora algumas crianças possam precisar de apoio em determinadas áreas da sua vida, muitas são capazes de levar uma vida independente e proactiva. Sabe-se que o nível de funcionalidade de um indivíduo com esta condição depende do perfil cognitivo e da estimulação promovida ao longo da vida. Por esta razão, uma intervenção precoce e ajustada às necessidades de cada um torna-se crucial.

4º Mito – “As crianças com Perturbação do Espetro do Autismo são agressivas”

A agressividade não se apresenta como uma característica transversal a todas as crianças que apresentam esta condição, e pode ser observada numa variedade de condições e circunstâncias. No entanto, comportamentos agressivos podem surgir, por vezes, associados a dificuldades em comunicar necessidades ou interesses, à desregulação emocional, a dificuldades sensoriais, à gestão emocional e à compreensão e adaptação a diferentes situações. É crucial compreendermos que comportamentos de maior agressividade são uma forma de comunicação, que as crianças entendem como eficaz. A abordagem mais adequada nestas situações, passa por identificar e tratar as causas subjacentes a estes comportamentos, promovendo estratégias de comunicação mais adequadas.

5º Mito – “As pessoas com autismo abanam os braços e fazem movimentos repetitivos”

Algumas crianças podem apresentar comportamentos repetitivos, também designados por estereotipias. O Ffapping, comportamento repetitivo caracterizado pelo balançar e agitar dos braços, é o mais associado às estereotipias nas crianças com PEA. No entanto, há estereotipias muito subtis, tais como movimentos oculares, movimentos complexos dos dedos ou o saltitar.

De notar, que estes comportamentos podem ser uma forma de expressão, comunicação e até mesmo de autorregulação, não devendo ser automaticamente considerados negativos, a não ser que interfiram significativamente com a qualidade de vida, com as habilidades e com as interações sociais das crianças.

Espero que este artigo lhe tenha sido útil.

Patrícia Botelho,

Psicóloga na IPI

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