Dia 13 de novembro realizou-se nas instalações da A2000, em Poiares, um encontro de entidades da Rede Social de Santa Marta de Penaguião, com o objetivo de estreitarem laços e partilharem vivências e expectativas, numa visão de que o futuro será mais fácil se as entidades se mantiverem unidas e crescerem num esforço conjunto de apoiar a comunidade mais e melhor.
Assim, estiveram representadas as seguintes entidades: Município de Santa Marta de Penaguião, Centro Social e Paroquial de S. Miguel, Fundação Luís Vicente e a UCC – Unidade de Cuidados à Comunidade de Santa Marta de Penaguião.
Cada uma apresentou a “fotografia atual” da sua organização, focando os seus pontos fortes e fracos.
Salientaram-se como Pontos Fortes, comuns às várias entidades presentes:
– As equipas terem maturidade e “vestirem a camisola” da entidade, promovendo uma cultura de defesa da causa social, de cooperação e entreajuda entre funcionários, em que os/as mais velhos/as sensibilizam os mais novos para a humanização dos serviços, colocando nos momentos críticos, o profissional acima do pessoal.
– Constatou-se, também, que no concelho de Santa Marta de Penaguião as instituições mantêm uma sinergia positiva que permite que os serviços fluam e que a rede de apoios sociais diversificada responda, em tempo útil, às necessidades das pessoas.
Os Pontos Fracos referidos resumiram-se a 3 muito significativos: Dificuldades financeiras, dificuldade na substituição dos colaboradores que se reformam ou ausentam e o fraco reconhecimento da importância das IPSS no quadro político nacional. Especificando:
– As despesas de funcionamento das IPSS’s estão sempre a aumentar (luz, água, combustíveis, alimentos, produtos de higienização, atualização de equipamentos, manutenção das viaturas, os salários dos funcionários, etc.); as exigências da Segurança Social também aumentam (por exº. a Segurança Social exige enfermeiro nas ERPI’s, o que implica materiais de enfermagem caros, quando antes o idoso, como qualquer outro cidadão Português recorria ao SNS para fazer os seus tratamentos, agoar são as IPSS’s a suportar todas essas despesas; outro exº dado: as IPSS’s terão de analisar a água e o ar nas suas instalações para prevenir surtos de Legionella, isto implica custos para as IPSS’s!), contudo, a Segurança Social não aumenta as suas comparticipações na proporção da taxa de inflação e/ou da taxa de aumento do salário minino nacional – exº a Segurança Social paga, às ERPI’s, por mês e por idoso, 37% da despesa que este envolve, logo o restante tem de ser pago pelo idoso, mas como vivemos numa região rural, as reformas são baixas e não cobrem a despesa, pelo que ou a IPSS rejeita os idosos pobres ou assume a dívida!
– As IPSS’s referiram que se sentem mal representadas na “mesa de negociações” com o estado, pois não vêm as suas necessidades e as dos seus utentes colmatadas, pelo contrário, as dificuldades financeiras estão a aumentar.
– Os constrangimentos financeiros implicam que as IPSS’s se vêm obrigadas a efetuar cortes nas despesas, o que conduz ao empobrecimento das atividades lúdicas e recreativas dos idosos e mais tarde, quiçá, na qualidade do serviço prestado.
– Ao nível da Saúde os constrangimentos financeiros também se fazem sentir, e são públicos, tudo apontando que o SNS venha a sofrer remodelações que implicarão perda de qualidade ou de regalias para os cidadãos.
– Dificuldade em recrutar novos colaboradores nas IPSS’s: os vencimentos e horários não são muito atrativos, mas, acresce a isto o facto dos jovens não estarem muito vocacionados para o tipo de funções que envolvem trabalho esforçado, responsabilidade e algumas competências humanas, tais como tolerância, flexibilidade, trabalho em equipa e algum espírito de sacrifício do pessoal em prol do social.
Face a este panorama debateram-se várias possibilidades e estratégias que possam colmatar as dificuldades sentidas:
– Relativamente às questões financeiras, as entidades presentes referiam que se recorrem de algumas estratégias de angariação – a A2000 de uma forma mais organizada, pois também é a entidade que, devido à aquisição da sede e ás obras em curso, tem encargos maiores, as restantes recorrem a modalidade de venda de rifas, eventos e venda dos trabalhos feitos nas atividades; o que é insuficiente. Outras adotaram medidas de eficiência energética para pouparem despesas; outras pedem subsídios às entidades autárquicas.
Contudo, percebeu-se que a angariação não é a medida de fundo mais eficaz.
– É preciso que o Estado esteja mais esclarecido e sensível à realidade das IPSS’s e, consequentemente melhorar as Políticas Sociais. Ora, para tal, têm de ser os Políticos a ”colocar em cima da mesa” este assunto, mas eles nem sempre percecionam a realidade como as pessoas que a estão a viver. Por isso surgiu a sugestão de as IPSS’s se unirem de forma mais concertada para sensibilizarem e esclarecerem os políticos locais, que nos representam no Parlamento e no Governo, de modo que as negociações sejam realizadas com pessoas instruídas sobre o assunto.
– No debate surgiu a questão de que é frequente os políticos locais terem pouca preparação para alguns assuntos – principalmente as questões sociais que envolvem medidas de longa implementação, cujos resultados, por vezes, apenas se vêm ao fim de uma geração – e surgiu a sugestão de haver formação para políticos, autarcas, juventudes políticas, etc., pois se pretendem representar uma comunidade, é importante que conheçam todas as problemáticas que lhe são inerentes.
– A falta de informação/ formação/ preparação dos políticos locais reflete-se frequentemente em pequenos gestos, como por ex.º faltarem/ não se fazerem representar nas reuniões da Rede Social, que seria o momento de se inteirarem dos problemas locais – há concelhos que penalizam os faltosos.
– As questões com a Segurança Social exigem fundamentação política e legal para serem debatidas, pois por ex.º se a Segurança Social nos meses em que são pagos os subsídios de férias e de Natal, também incrementasse o valor dos subsídios, seria uma grande ajuda às IPSS’s, mas isto envolve enquadramento legal e orçamental…
– Quanto ao recrutamento de jovens, a questão que se colocou foi “Como motivá-los para o trabalho social?” e, seguindo o aforismo “De pequenino é que se torce o pepino” sugeriu-se que se fomentasse o voluntariado jovem e lúdico com os grupos de jovens, Escuteiros e Escola; e que no Campo de Férias do Município se fizessem atividades intergeracionais com as IPSS’s, por forma a sensibilizar os jovens para a realidade social, solidária e profissional.
– Relativamente aos beneficiários de RSI, se forem adultos ativos, poderiam ter algumas obrigações em IPSS’s, o que poderia ser uma aprendizagem enriquecedora, para a descoberta de novas vocações na área.
Em suma: face a um futuro cheio de incertezas globais, políticas, climáticas, sociais, económicas, os participantes deste encontro resumiram as suas sugestões numa só e abrangente: é importante que as entidades que operam num concelho se reúnam e, unam a uma só voz, identificando os problemas que atravessam para poderem defender os direitos dos cidadãos do concelho e terem um poder mais representativo nos organismos supraconcelhios: ULS, UDIPSS, CIM, etc., por forma a que sejam encontradas soluções robustas para a área social.
Marina Teixeira, Diretora Técnica